14 de abril de 2013

Tu

E depois correste. E eu fiquei ali, parada, completamente imóvel, sem saber porquê, a olhar para ti. Vi-te fugir e não disse nada, não me importei, nem pensei na falta que me farias quando já não estivesses lá.
Lembro-me de cada palavra que me disseste enquanto seguravas a minha mão, ou as minhas mãos quando o assunto era importante. Lembro-me do que sentia quando me tocavas no cabelo, e o cheiravas, para depois te rires e dizeres "cheira a pêssego, come-se?". Não me esqueci de como me abraçavas e me levantavas do chão, para depois me chamares gorda. E lembro-me, de como ficava triste e amuada porque em vez de me beijares fazias essas coisas para te divertires. Agora fugiste, de vez. E eu queria voltar a sentir cada fio do meu cabelo na tua boca, e queria que me apertasses as mãos até estalarem, também queria que me chamasses gorda, mas queria que o fizesses abraçado a mim, como costumavas fazer.
Agora, passado este tempo todo posso dizer-te que já não tenho saudades tuas. Já não me fazes a falta que fazias. Já reaprendi a viver sem ti. Obrigada, agora até sei fazê-lo melhor, porque ensinaste-me muita coisa. Mas não voltes a fugir, corre outra vez, mas na minha direção. Volta a mexer-me no cabelo, se quiseres. Agarra as minhas mãos, sempre que te apetecer. Pega em mim, chama-me o que quiseres, está à vontade, afinal de contas, ainda és tu. Sim, vais ser sempre tu.

Fotografia: Ribeira do Ferreiro, Fajã Grande, Ilha das Flores, Açores

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