E depois correste. E eu fiquei ali, parada, completamente imóvel, sem saber porquê, a olhar para ti. Vi-te fugir e não disse nada, não me importei, nem pensei na falta que me farias quando já não estivesses lá. Lembro-me de cada palavra que me disseste enquanto seguravas a minha mão, ou as minhas mãos quando o assunto era importante. Lembro-me do que sentia quando me tocavas no cabelo, e o cheiravas, para depois te rires e dizeres "cheira a pêssego, come-se?". Não me esqueci de como me abraçavas e me levantavas do chão, para depois me chamares gorda. E lembro-me, de como ficava triste e amuada porque em vez de me beijares fazias essas coisas para te divertires. Agora fugiste, de vez. E eu queria voltar a sentir cada fio do meu cabelo na tua boca, e queria que me apertasses as mãos até estalarem, também queria que me chamasses gorda, mas queria que o fizesses abraçado a mim, como costumavas fazer. Agora, passado este tempo todo posso dizer-te que já não tenho saudades tuas. Já não me fazes a falta que fazias. Já reaprendi a viver sem ti. Obrigada, agora até sei fazê-lo melhor, porque ensinaste-me muita coisa. Mas não voltes a fugir, corre outra vez, mas na minha direção. Volta a mexer-me no cabelo, se quiseres. Agarra as minhas mãos, sempre que te apetecer. Pega em mim, chama-me o que quiseres, está à vontade, afinal de contas, ainda és tu. Sim, vais ser sempre tu. Fotografia: Ribeira do Ferreiro, Fajã Grande, Ilha das Flores, Açores
Brisa leve e a porta abre-se, há um olhar ao fundo dela e esbate-se São os teus olhos, emanados em luz pouca sombra se produz Amei, mas não falei calei mas observei, deixaste-me parado, paralisei… Se te amei eu não sei, se te amo não dá, quero te ver minha fada… Exoticismos líricos, jamais saberei produzir, tais são os teus só para me conseguir seduzir Gosto mesmo disso, já percebeste isso, lançaste o feitiço e agora parei. Erróneo não estou, mas a paradoxo soou, mais amores eu não quero (tou a ser sincero) Mas sem ti eu não sou …
Isto até rimou…
Abro te a porta, devagar, a sobremesa que me falaste está na sala de estar A tua espera, pudera o cheesecake arrefecera A conversa aquecera… Ideias pudera Sonhos da primavera Na ilha terceira…
Tiago Queirós
Fotografia: Lagoa dos Patos, Ilha Terceira, Açores